Desde a semana passada eu quero postar a crônica do Walcyr Carrasco para a Veja SP (nossa querida Vejinha) falando da necessidade que as pessoas têm de ostentar grifes. Eu acho o ó e conversando com Lili Montemor, outro dia, falávamos sobre a crônica e ela me disse: posta no blog! Então... aí está, na íntegra!
Estou cercado de roupas. Camisetas, calças, bermudas e casacos se amontoam em torno de mim. O vendedor corre de um lado para o outro à procura de peças que possam conter minha barriga. O que, convenhamos, nem sempre é uma tarefa fácil. Vejo de longe uma camiseta colorida.
— Quero essa! — aviso.
Ele encontra meu número. E que maravilha, é laaarga! Mas, na frente, em letras garrafais, está estampado o nome da grife. Boto de lado.
— Não tenho vocação para outdoor — explico.
— Mas todo mundo valoriza isso — ele argumenta.
Explico que mesmo assim não quero. E começa o problema. Quase todas as peças ostentam a marca. Transformam a roupa em propaganda. Saio sem comprar praticamente nada.
Boa parte das pessoas que conheço age de maneira oposta. Adora exibir a etiqueta. E, se não está aparente, dá um jeito de dizer qual é. Mulheres mostram, orgulhosas, malas e bolsas de uma marca conhecida com as iniciais do criador por todo lado. Eu acho supercafona.
Tenho uma amiga que só consegue comprar roupas e peças caras. Sente-se chiquérrima. Mostra a bota e avisa que é da marca tal. Estende o pulso, exibe o relógio, é de outra. Gasta uma grana que não tem. Paga tudo em vezes suadas. Será chique estourar o cartão de crédito? E para quê? Mal se vira, as amigas, também carregadas de grifes, comentam:
— Ah, mas aquelas botas não ficaram bem para ela.
— O vestido não faz o gênero dela. Parece pendurado num varal!
Fiquei sabendo que garotos de periferia se matam para comprar uma camiseta de etiqueta famosa em dez pagamentos. Botam orgulhosos, é sua melhor roupa. E, claro, querem ostentar a marca. Assim sentem que pertencem a um mundo do qual, de fato, não fazem parte. Mas eles eu entendo. Vivemos em uma sociedade que, na prática, tem preconceito contra a pobreza.
Ser “chique”, “elegante”, é um valor implantado desde cedo na cabeça das crianças. Como se a pobreza fosse vergonha, um fracasso pessoal. A roupa de grife supostamente avaliza a entrada em um mundo da elite. Só supostamente, óbvio. Isso explica as garotas que compram bolsas com as famosas iniciais em camelôs. Falsas! (Aliás, bolsa fake existe em todo o mundo.) Mas e daí se são clonadas? A maioria das pessoas nem percebe. Ainda mais de noite, na balada. Às vezes estou numa festa e observo as pessoas ostentarem suas roupas e peças. Vou dando mentalmente apelidos:
“Aquela lá é a senhorita dez vezes sem acréscimo”.
“Aquele botou a camiseta do camelô e está se sentindo o máximo”.
O que me espanta é que até pessoas bem de vida querem parecer mais através das marcas. A necessidade de status é tão grande que artistas e até socialites costumam pedir emprestados joias e carros de luxo para ir a festas e programas de televisão!
Reconheço: roupas e peças de grife se tornaram desejadas porque oferecem desenhos especiais, tecidos bons. Caem melhor no corpo. Assim, não acho errado usar esses produtos. Mas não se pode esquecer: nomes nacionais também oferecem o mesmo caimento e elegância. O que eu acho tremendamente cafona é se transformar em vitrine, ostentando o nome dos fabricantes por todo o corpo. A pessoa fica igual a uma geladeira carregada de ímãs. Na última vez, quando o vendedor me apresentou a décima peça estilo outdoor, perguntei:
— Mas quanto vão me pagar para fazer propaganda da marca?
Quase fui expulso. Acho que ele nunca tinha ouvido essa pergunta. E, para mim, não haveria nada mais lógico.
Plenamente certo Walcyr!.
ResponderExcluirPéssimo ser escravo da etiqueta,este comportamento é para pessoas inseguras, que usam a grife como muleta ou trampolim para serem aceitas. Vamos acordar pessoas!
Curti mil vezes !! Tem muita gte que deveria ler isso e colOcar em prática !!!
ResponderExcluirIsso lembra o livro da Naomi Klein (Jornalista premiada e colunista do New York Times). O Livro " No Logo", em portuquês " Sem Logo" ( A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido.
ResponderExcluirNão sou contra as marcas, o problemas é o fato das pessoas as ostentarem. E isso numa sociedade em que o "ter" vale mais que o "ser", torna-se o alicerce para a exclusão e a discriminação social.
Clara Kaufman
Dani, outdoor essa é boa. concordo plenamente com o texto. Sou a favor do conforto!!!!!
ResponderExcluirMas que a GRIFE ´´e boa , é boa.
ResponderExcluirAh seu pudesse e meu dinheiro desse...........
ah..........
Ser chique vai muito além das etiquetas e ostentações!
ResponderExcluirHá pessoas que podem vestir "ouro", mas a essência será sempre brega. Por outro lado, conheço pessoas que, mesmo estando com uma bata branca básica da Marisa e uma calça surrada são chiquérrimas! O que importa é a essência das pessoas. É isso que as torna belas e chiques!
bjux
Pois é... a propaganda da marca é feita com o nosso dinheiro. Quer dizer, não com o meu... não posso esbanjar, e mesmo quando me permito um gasto maior é consciente de que estou investindo na qualidade do produto, não numa ostentação. Quando vejo uma marca estampada penso logo "como tal marca é esperta, recebeu (se aproveitou dos deslumbrados) para fazer a própria propaganda". Rsrs.
ResponderExcluirAmei esse texto. Penso como ele. Não ligo para marcas de roupa, e sim se é bonita e veste bem. Não gosto de pagar caro também, apenas o justo.
ResponderExcluirconcordo,oh mundo capitalista!!!
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